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Manaus: familiares buscam cilindros de oxigĂȘnio para salvar pacientes

Por REDAÇÃO em 16/01/2021 às 08:39:35

A crise na saĂșde do estado do Amazonas levou os familiares de pacientes infectados por covid-19 a buscarem cilindros de oxigĂȘnio por conta própria para tentar evitar que seus parentes morressem por asfixia. Eles chegaram a sair com cilindros vazios dos hospitais da capital Manaus em busca de locais que pudessem enchĂȘ-los. O estoque de oxigĂȘnio acabou em vĂĄrios hospitais da cidade nesta quinta-feira (14), o que levou pacientes internados à morte, segundo relatos de médicos que trabalham na cidade.

A informação foi confirmada pelo presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), MĂĄrio Vianna, que trabalha no Hospital UniversitĂĄrio GetĂșlio Vargas, em Manaus, e estĂĄ na linha de frente de combate à covid-19. "Nós estamos em um cenĂĄrio de guerra e, nesse cenĂĄrio, principalmente na linha de frente, hĂĄ pessoas que vem a falecer, ou seja, que são abatidas em combate", desabafou o médico sobre as mortes causadas pela falta de oxigĂȘnio.

"As pessoas [estavam] saindo do hospital com cilindro arrastando indo atrĂĄs de oxigĂȘnio. Um familiar com paciente que precisa do oxigĂȘnio faz qualquer negócio. Os valores de cilindros aumentaram absurdamente, como também das medicações, e nós não vemos nenhuma atuação dos órgãos de controle social. CadĂȘ o Ministério PĂșblico? CadĂȘ a PolĂ­cia Federal? CadĂȘ a PolĂ­cia Civil?", disse.

Conforme a AgĂȘncia Brasil divulgou, o aumento do nĂșmero de casos da doença e a necessĂĄria corrida para abrir novos leitos hospitalares fez com que a demanda por oxigĂȘnio medicinal aumentasse exponencialmente. Na terça-feira (12), o volume do produto consumido nos hospitais da rede pĂșblica de saĂșde foi mais de 11 vezes superior à média diĂĄria habitual de consumo.

Segundo acompanhantes de pacientes com covid-19 internados no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, também na capital amazonense, o nĂ­vel de oxigĂȘnio para pacientes com covid-19 na unidade chegou a ser reduzido devido à falta do insumo.

FĂĄtima Mello, de 60 anos, estĂĄ com o filho de 39 anos internado no local com covid-19, dependendo de oxigĂȘnio. Ela contou que na quarta-feira (13), o hospital começou a reduzir o oxigĂȘnio dos pacientes, o que levou alguns hospitalizados a terem queda da saturação e a passarem mal. "Meu filho estava saturando entre 91 e 92. À noite, quando reduziram o oxigĂȘnio, ele começou a saturar 69, ele amanheceu o dia mole, não conseguia nem abrir o olho de tão mal que ele passou a noite. E, se eu não tivesse conseguido o oxigĂȘnio para ele, ele teria morrido", relatou.

Ela conseguiu comprar um cilindro por R$ 6 mil, mas afirmou que os valores estão subindo. "Hoje eu vi anunciando R$ 8 mil o mesmo cilindro, que dura trĂȘs horas. Entendeu a nossa preocupação? Porque a gente disponibiliza uma quantia dessas para durar trĂȘs horas e aĂ­ não chega o oxigĂȘnio [do próprio hospital depois], vai morrer do mesmo jeito", desabafou.

Outros familiares não tiveram a mesma condição de comprar o cilindro – seja por falta no mercado, seja pelo preço – e, na tarde de ontem, tiveram que assistir a uma nova redução da oferta de oxigĂȘnio aos pacientes, conforme relatou FĂĄtima, e, na ocasião, os acompanhantes foram retirados do hospital.

"Começou a morrer muita gente. E aĂ­ eles tiraram todos os acompanhantes que estavam dentro do hospital, tiraram todos os acompanhantes porque eles iriam desligar [o oxigĂȘnio] 17h porque não tinha mais. A diretoria do hospital pedindo oxigĂȘnio e não chegava, nada de oxigĂȘnio. Começou a morrer gente, morrer gente e a famĂ­lia correndo atrĂĄs de oxigĂȘnio, todo mundo desesperado em Manaus", contou FĂĄtima.

Segundo FĂĄtima, por volta das 19h30 de ontem, o hospital 28 de Agosto recebeu um carregamento de cilindros e os pacientes voltaram a receber o oxigĂȘnio.

O médico MĂĄrio Vianna alertou sobre os riscos na diminuição de oferta dos nĂ­veis de oxigĂȘnio para os pacientes como forma de racionamento. "Se eu tenho paciente com comprometimento pulmonar de 70%, 80% e eu não der oxigĂȘnio a ele 100%, eu não estou ajudando-o, eu estou inclusive causando lesão cerebral porque ele não consegue oxigenar direito com 25%, com 30% de oxigĂȘnio, e aĂ­ vai ter sequela, vai ter uma parada respiratória, parada cardĂ­aca e vai morrer. Estamos vendo cenĂĄrio de guerra, é preciso que as pessoas acreditem", apelou o médico.

Ventilação manual

Apesar dos casos de mortes pela falta do oxigĂȘnio, Vianna contou que alguns pacientes foram salvos por serem colocados em ventilação manual, para que pudessem receber pelo menos o ar ambiente, jĂĄ que não havia mais oxigĂȘnio. "Porque tem alguns pacientes que estão intubados e não conseguem manter sua respiração sem a mĂĄquina. A mĂĄquina funciona com eletricidade e com pressão de oxigĂȘnio."

Ele relatou que ontem pacientes precisaram ser ambuzados - receberam oxigenação de forma manual - pelos profissionais de saĂșde e pelos próprios familiares. "Ontem [foram ambuzados] e acredito que hoje continua a acontecer porque continua tendo deficiĂȘncia de oxigĂȘnio em vĂĄrias unidades", disse. No entanto, a medida tem suas limitações, jĂĄ que uma pessoa não consegue realizar a ventilação manual por muito tempo seguido.

"Em média, se a pessoa for forte e bem preparada, ela consegue ambuzar uma hora talvez duas horas sem parar, mas não consegue mais do que isso porque hĂĄ um esgotamento da musculatura das mãos, são movimentos repetitivos e que a mão da pessoa entra em esgotamento. Pode ser um atleta de alta performance, mas ele não consegue ficar ambuzando durante horas seguidas", explicou.

Vianna contou que o uso de um cilindro em esquema de revezamento entre dois a trĂȘs pacientes estĂĄ sendo feito de forma frequente, mas que a medida não estĂĄ sendo suficiente. "Por mais cilindros que tenha, eles acabam rapidamente e vocĂȘ não consegue ter um quantitativo de cilindro para atender todos os doentes. Com certeza, nesse momento, vĂĄrios pacientes estão com deficiĂȘncia de oxigĂȘnio."

A estudante Cibele Nogueira, 35, começou a corrida por um cilindro de oxigĂȘnio antes mesmo de a mãe precisar, por causa do medo de depender da oferta nos hospitais. "Eu encontrei hoje pela manhã, através de uma distribuidora, e fui muito rĂĄpida, tem que correr, é que nem ouro", contou. A partir do momento em que a mãe testou positivo para covid-19, ela saiu à procura do insumo.

"As pessoas estão desesperadas atrĂĄs de oxigĂȘnio, oxĂ­metro também, estão sentindo dificuldade de encontrar. Eu me antecipei para ter mais garantia porque ela jĂĄ estĂĄ sentindo cansaço, aquela dificuldade, ela não estĂĄ em um perĂ­odo grave, mas ela jĂĄ estĂĄ naquele caminho. Para eu não correr o risco de perder a minha mãe, de chegar no pronto socorro e encontrar as portas fechadas, então jĂĄ me precavi, estou cuidando dela em casa", contou.

O tratamento estĂĄ sendo feito em casa e, caso a mãe precise do oxigĂȘnio, ela contou que contarĂĄ com o apoio de uma pessoa na famĂ­lia que é enfermeira. "Em nome de Jesus talvez a gente nem chegue [a usar]. Se sobrar, a gente manda para outra pessoa", disse Cibele. Ela contou que o aluguel por dez dias custa em torno de R$ 1,5 mil.

Fonte: AgĂȘncia Brasil

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