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UFRJ: primeira e maior universidade do Brasil completa 100 anos

O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ, é o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América [...]

Por REDAÇÃO em 07/09/2020 às 10:34:10

O Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ, é o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina- Coppe/UFRJ/Direitos reservados

Napós-graduaçãosão15,7 mil estudantes,em200 cursos de especialização lato-sensu, 130 de mestrados acadêmico e profissional e 94 de doutorado. O corpo de profissionais conta com 4.218 docentes, 3.611 técnicos-administrativos que atuam em hospitais e 5.542 técnicos-administrativos nas demais unidades da UFRJ. Na área de extensão universitária, são 1.863 projetos pedagógicos, atividades artísticas e cursos para a população.

A UFRJ conta com 14 prédios tombados como patrimônio histórico, 1.456 laboratórios, 45 bibliotecas, 13 museus e nove unidades de saúde. A instituição abriga o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina, o Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), e o tanque oceânico mais profundo do mundo para testes de equipamentos da área de petróleo e gásoffshore.

Pandemia

Uma das principais instituições científicas do país, a UFRJ se adaptou rapidamente para responder às demandas urgentes da sociedadecom a pandemia de covid-19.

A reitora, Denise Pires de Carvalho, explica que a capacidade de pesquisa e adaptaçãovem da longa jornada em busca da excelência científica pela instituição.

A reitora nomeada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho fala durante evento em comemoração aos 201 anos do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

Reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho - Tomaz Silva/Arquivo Agência Brasil

"Nós não tínhamos nenhum grupo de pesquisa trabalhando com coronavírus na UFRJ. Nenhum. E temos agora mais de 120 projetos de pesquisa em coronavírus em menos de 6 meses. Isso é a característica de uma instituição de pesquisa, ela responde rapidamente às demandas da sociedade. Um grupo que trabalhava com zika, com HIV, agora está trabalhando também com coronavírus. Seesse grupo não existisse, era praticamente impossível termos os novos teste sorológicos", avalia.

Um desses grupos de pesquisa é o do professorJerson Lima, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis,quetrabalha com proteínas envolvidas no câncer e proteínas de vírus como o Zika e o da Influenza. Com a pandemia, o foco se voltou para o SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19, e o resultado é um soro produzido por cavalos com cem vezes mais anticorpos do que o de pacientes da doença.

O material pode auxiliar no tratamento da covid-19, assim como o soro antiofídico funciona para picada de cobra e o soro antirrábico para mordida de animais.

"Avacina é uma imunização ativa, usa o vírus ou pedaço do vírus e vai gerar a resposta imune, os anticorpos. O soro é uma imunização passiva. Nós estamos imunizando os cavalos, para nossa surpresa, eles estão produzindomuito anticorpo.Esse material é processado para ficar só com uma parte do anticorpo, que reage com o vírus.Provavelmente, ele vai servirpara tratar aquele paciente que foi para a enfermaria, está recebendo um pouco de oxigênio suplementar e o soro vaiterum efeito importante de combatera infecção", explica o professor.

O potencial do tratamento foi verificado em testespré-clínicos, feitos em laboratório, e, no momento, a equipe dialoga com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes clínicos, com pacientes, onde será verificada a eficácia, dosagem e recomendação do tratamento.

Presente

Em meio a enormes desafios, principalmente, a pandemia de covid-19, e inúmeras contribuições para as ciências e a pesquisa no país, em todas as áreas de conhecimento, a UFRJenfrentacortes de orçamento e dificuldades para manter a infraestrutura de pesquisa conquistada e consolidada neste século de história.

Segundo a reitora, oscortes orçamentáriosdos últimos anosfizeram o déficit da UFRJ alcançar R$ 150 milhões no ano passado, com perspectivas de a universidade receber R$ 65 milhões a menos em 2021.

Fachada do Hopital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, local de atendimento aos três feridos na explosão em laboratório da Coppe/UFRJ.

Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ- Tomaz Silva/Arquivo Agência Brasil

"Sehojenós temos orçamento para 10 meses de funcionamento, em 2021 nós teremos esse orçamento para 8 meses. Então, imagina um hospital que tem CTIcovid, que tem enfermaria covidterque fechar essas áreas porque não pode pagar a limpeza das enfermarias por quatro meses. Tem laboratórios de pesquisa cultivando coronavírus, sequenciando, desenvolvendo vacinas, que vão gerar riqueza para o país, tendo que ser fechados porque não há limpeza nos laboratórios",explica Denise.

O professor Jerson Lima, que também preside da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Riode Janeiro(Faperj), destaca que a falta de investimento em ciência, tecnologia, pesquisa e inovação no Brasil, cujo momento mais crítico foi em 2016, levou à volta da "fuga de cérebros" do país, com pesquisadores buscando melhores condições de trabalho na Europa ou nos Estados Unidos.

"Poderíamos termuito mais estudos se tivéssemos uma infraestrutura melhor de laboratórios com biossegurança. Tudo isso é um custo, precisatero investimento, na formação de pessoal, nos pós-doc. A gente perde muitos talentos. Uma pessoa que quer trabalhar com técnicas como edição genômica, aqui a gente poderiatermais, mas isso requer recursos. Os cientistas brasileiros competem com os cientistas americanos, europeus, só que lá eles têm condições muito melhores".

Ele compara o investimento feito no Instituto Nacional de Saúde americana (NIH), que tem um orçamento de US$ 35 bilhões, com o orçamento de todo o Ministério de Ciência e Tecnologia, de R$ 7,36 bilhões em 2020.

"Você não tem comoterdesenvolvimento econômico e social sem investir na inovação, em pesquisa e desenvolvimento. Desde a pesquisa base, as pessoas estão entendendo isso agora com a pandemia, a pesquisa aplicada é uma consequência do que você entende da pesquisa básica. Se a gente não entender como o vírus age quando infecta a célula, em que receptor que ele se liga, conhecer exatamente como é a doença em termos básicos, você não vai poder fazer vacina, ou soro, ou medicamento", destaca.

Passado

A professora Marieta de Moraes Ferreira, do Instituto de História da UFRJ, explica que, apesar de a Universidade do Riode Janeirotersido criada em 1920, a instituição só passou a funcionar como uma universidade, com integração interdisciplinar, após a reforma educacional instituída por Getúlio Vargas a partir de 1930, que tinha entre os pensadores que defendiam a educação pública, laica e gratuita nomes como Anísio Teixeira e Afonso Arinos.

"Em 1931 tem uma reforma educacional, com a preocupação de reestruturar a educação básica e também de colocar em pauta o desejo de fazer com que aquela antiga universidade se tornasse real.Écriada em 1937 a Universidade do Brasil, que vai de fato integrar a faculdade de medicina, direito, engenharia e mais outras escolas que estavam sendo criadas naquele momento. Dois anos depois, em 1939, é criada a Faculdade Nacional de Filosofia, que tinha como objetivo formar professores para a educação básica, de todas as disciplinas".

De acordo com a historiadora, o nome UFRJ é adotado em 1967, após outra reforma universitária. A universidade participava dos debates sobre as reformas de base no começo da década de 1960 e Darcy Ribeiro propunha um novo modelo, com a criação da Universidade de Brasília (UnB), em 1962. Mas a reforma só ocorreu em 1968, com o governo militar em vigor.

"Há então, nesse período, grandes discussões, não só sobre o conteúdo das disciplinas, das matérias, mas também sobre qual é o lugar da universidade de um país moderno, de um país que queria enfrentar o problema da desigualdade social", relembra Marieta.

"Mas em 1964 ocorre o golpe militar e esse processo é interrompido. A partir daí volta, pelo regime militar, ateruma discussão sobre a reforma universitária, que é imposta de cima para baixo. Extingue-se o regime de cátedra, cria-se o modelo de departamentos, cria-se também o sistema de créditos", conta a historiadora.

A reitora Denise Pires de Carvalho destaca que a universidade de pesquisa é implantada no Brasil na década de 1930, seguindo o modelo alemão e também utilizado em locais como Oxford, na Inglaterra, e Harvard, nos Estados Unidos. Com isso, a Universidade do Brasil é utilizada como modelo para as demais universidades criadas no período, como a Universidade de São Paulo (USP), de 1934.

"Desde o início ela se torna uma universidade de pesquisa e vem se fortalecendo mais em algumas áreas, como por exemplo óleo e gás, em parceria com a Petrobras, que vem da década de 70. Isso fez com que o Brasil detivesse a tecnologia de extração de petróleo em águas profundas. Nós podemos fazer essa extração porque os laboratórios da UFRJ, em parceria com a Petrobras e empresas da área de óleo e gás, chegaram a essa tecnologia. Isso é um exemplo de como é importante uma universidade de pesquisa, porque ela resolve problemas que são importantes para o país."

Futuro

Para os próximos anos, o professorJerson Lima espera que a UFRJ consigasuperar as dificuldades financeiras, em meio à retração da economia do país."O primeiro desafio é esse, como vai ser manter todo esse parque de ciência e tecnologia, manter toda essa infraestruturacom diminuição de recurso."

Para o médio prazo, o professor se diz otimista e afirma que a UFRJ e todas as instituições de pesquisa do Brasil e do mundo sairão da pandemia fortalecidas e mais respeitadas, pelo excelente trabalho que vêm desenvolvendo nesta crise.Para o longo prazo, Lima diz que os alicerces estão muito bem estabelecidos para que a universidade ofereça à sociedade as respostas que ela precisa. Porém, é preciso que os investimentos correspondam às necessidades.

"Infelizmente ainda há os movimentos anticiência, mas a ciência sai fortalecida, em todas as suas mensagens ela diz que não tem verdades absolutas, mas o melhor que temos é fazer com muito cuidado. A universidade não é um custo, ela é um investimento que dá retorno. Esse retorno tem que ser cobrado, mas para cobrar você tem que investir."

Areitoracita osObjetivos do Desenvolvimento Sustentável(ODS)daOrganização das Nações Unidas (ONU) como guia de ações, com metas a serem atingidas até 2030. Porém, para Denise, o Brasil precisa abraçar esses objetivos para o próximo século.

"Nós entramos nos últimos 10 anos dos ODS e eu gostaria que a universidade se debruçasse seriamente sobre esses objetivos, porque vai ajudar que o nosso país avance. Para isso, nós precisamos de mais investimento e de menos burocracia também. Para isso, precisamos de apoio dos governos, todos, porque somos um projeto de Estado e precisamos permanecer como um projeto de Estado para garantir o desenvolvimento do Brasil."

Como exemplo desse olhar para o futuro, a reitora explica que a UFRJ tem se atualizado e tem aberto novos cursos, como nas áreas denanotecnologia, biotecnologiaeengenharia matemática com foco na inteligência artificial.

*Colaborou Tâmara Freire, repórter do Radiojornalismo EBC

Fonte: Agência Brasil

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